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Inteligência Socioemocional

5 motivos para investir em educação socioemocional

A educação socioemocional é uma abordagem curricular ampla que contempla todo o ciclo escolar do estudante, partindo de uma proposta integral que visa desenvolver não apenas os conteúdos tradicionais, mas também os fatores sociais e emocionais envolvidos nos processos de ensino e de aprendizagem.

Para quem ainda não conhece a educação socioemocional, selecionamos a seguir uma exposição de cinco motivos que mostram porque essa abordagem é tão relevante. E para exemplificar como ela funciona na prática, incluímos também depoimentos de escolas e famílias que contam como ressignificaram seu entendimento sobre a educação de crianças e adolescentes. Confira:

1. Mais conexão com alunos e famílias 

Engajar estudantes e suas famílias é um desafio constante das escolas e um dos principais benefícios da educação socioemocional é contribuir com esse ponto. Em instituições que investem a fundo nessa abordagem, é bastante comum encontrar relatos de maior aproximação dos membros da comunidade escolar e mais diálogo entre professores, gestores, pais, mães e demais responsáveis.

Nessas escolas, a sensação de pertencimento se dá não por causa de atividades pontuais, como festas ou eventos, mas sim pela construção de um pilar socioemocional permanente e alinhado ao propósito pedagógico. Com essa perspectiva, elas investem na formação de seus educadores, em materiais adequados à cada faixa etária e parcerias com programas de referência, que contribuem para que esses conceitos se tornem uma realidade.

Com o programa LIV, por exemplo, apoiamos mais de 350 escolas na implantação desse pilar de educação socioemocional, fornecendo capacitação para que os educadores e gestores estejam aptos a colocar os conceitos em prática e, desse modo, aproximar ainda mais seus alunos e famílias.

Nesse sentido, juntos a mães, pais e responsáveis, o material oferece um convite para que possam, em diferentes oportunidades do dia a dia, participar de momentos compartilhados com seus filhos e filhas. Por isso, o programa oferece jogos, sugestões de leituras e filmes para ver junto, além de um conjunto de ideias para atividades que as famílias podem escolher fazer nos momentos que julgarem mais apropriados.

Além disso, para aqueles pais e mães que desejam se aprofundar mais no tema da educação socioemocional, o LIV fornece material de leitura complementar e conteúdos digitais em um aplicativo exclusivo, permitindo o estudo mais aprofundado, e respeitando o tempo de cada família.

Michelle Kauffmann é uma mãe com um filho em idade escolar que relata o impacto positivo do material na sua relação com a escola e com o aprendizado do menino. Em depoimento ao LIV, ela contou um pouco sobre essa experiência:

“Como mãe, eu vejo que existe hoje uma necessidade de um estudo particular, pois um dos desafios da maternidade e paternidade nesse momento é perceber que não dá mais para ser pai e mãe sem estudar, sem ler e se informar. Essa ideia do instinto é maravilhosa, mas tem coisas que não fizeram parte da nossa geração e que a gente precisa estar mais apto para poder ajudar nossos filhos a se desenvolverem. Essa questão no âmbito familiar é muito interessante porque ela dispara nos pais uma forma de estudar, de melhorar, de perceber como podem espelhar o que está sendo desenvolvido na escola. O material do LIV é muito bacana para os pais lerem, se aprofundarem no tema e entenderem como lidar. Hoje em dia, nem a escola educa totalmente, nem a família, é uma parceria. E quando você tem uma literatura comum, ajuda a fortalecer. Em casa, a gente fala de uma forma que é compatível com a escola, isso ajuda a criar um mecanismo de segurança para a criança saber que aquilo é uma base comum. Como mãe, eu sou muito feliz de ter esse material para eu ler, melhorar e conseguir desenvolver essas potencialidades.”

2. Educação socioemocional contribui para a resolução de conflitos

Questões como bullying, conflitos e agressividade são fatores de preocupação tanto das escolas quanto das famílias. Entretanto, não é incomum escutar relatos sobre como a educação socioemocional contribui para a redução desses aspectos.

Em conversas com escolas parceiras do LIV, por exemplo, tem sido evidenciado que o combate mais eficaz a essas formas de violência é possível com um trabalho consistente e constante. Nesse sentido, em vez de refutar o assunto, os estudantes podem abordá-lo a partir de diferentes prismas.

Ana Carolina de Melo Silva e Silva, coordenadora pedagógica e professora de LIV no Colégio Batista de Itabuna (BA), é uma das educadoras a destacar esses aspectos:

“Em nossa escola, sempre oferecíamos aos alunos e às famílias palestras visando combater o bullying e outras violências. Depois do LIV, porém, passamos a falar sobre essas temáticas de forma mais consistente. […] Antes eu resolvia as questões de bullying quando os alunos chegavam para conversar comigo particularmente. Eu os chamava, conversava e recorria aos pais para resolver a situação. Agora, quando estou em sala com eles usando o LIV, nós temos rodas de conversa abertas sobre esse e outros assuntos”.

Em linhas gerais, o programa LIV oferece suporte para que escolas, desde a Educação Infantil até o Ensino Médio, possam incluir em sua grade curricular ações voltadas para o desenvolvimento da inteligência emocional e de habilidades socioemocionais, como pensamento crítico, proatividade, comunicação, bem como o incentivo à empatia e à escuta.

De acordo com Ana Carolina, é o suporte recebido da equipe LIV que permite ao colégio entender e dar outros encaminhamentos para temas como o bullying, contando com a participação ativa dos estudantes a partir de uma perspectiva socioemocional. 

“O programa oferece um suporte muito grande. Eu não sabia como lidar com certas questões. Como educadora, eu penso, por exemplo, que as notas são secundárias. Eu me importo com o ser humano, esse é meu pensamento. O LIV ofereceu um conhecimento que eu não tinha, com temas que pude estudar e aprofundar, além de um suporte com questões que antes eu não sabia como abordar. Todos os pais comentam comigo quando têm oportunidade sobre o suporte emocional que os filhos estão recebendo nas aulas”.

3. Currículo atualizado: BNCC

As duas últimas grandes atualizações curriculares no Brasil inseriram a educação socioemocional no currículo obrigatório da Educação Básica.

A primeira foi a BNCC (Base Nacional Comum Curricular), que inseriu as chamadas competências gerais dentre as aprendizagens essenciais do currículo nacionalIsso significa que, para além dos conteúdos curriculares tradicionais, como Matemática, Linguagens e Ciências, dentre outros, as escolas precisam promover habilidades socioemocionais visando um amplo desenvolvimento do estudante.

Segundo o texto da lei, ter competências gerais significa “mobilizar conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemocionais), atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho”.

Mais recentemente, as escolas também vêm se adequando para ofertar o chamado Novo Ensino Médio, que amplia a BNCC para esse segmento, trazendo uma nova abordagem para os alunos adolescentes. Assim, para além das aprendizagens comuns e obrigatórias, eles poderão escolher se aprofundar em áreas que se relacionam com seus interesses, exigindo mais protagonismo e autonomia.

Nesse sentido, contar com um currículo de educação socioemocional possibilita às escolas se adequarem a esse cenário proporcionando aos estudantes um ensino significativo e atualizado.

E para falar um pouco mais sobre o impacto de ter um currículo socioemocional, selecionamos o depoimento de Silvio Panteleão, gestor das unidades Linhares e Colatina do Centro de Ensino Charles Darwin, no Espírito Santo. Assista abaixo:

4. Educação socioemocional e competências para a vida

Embora aqui estejamos falando da educação socioemocional principalmente no contexto escolar, é importante ressaltar seus benefícios para além das aulas. Isso porque uma proposta de ensino integral que contempla essas questões contribui para o desenvolvimento das chamadas competências socioemocionais. Elas englobam, dentre outras, habilidades como perseverança, comunicação, colaboração e pensamento crítico, que repercutem em diferentes campos da vida.

Também chamadas de soft skills, essas habilidades, por muitos anos, foram vistas como secundárias, em detrimento dos conhecimentos técnicos e específicos de cada disciplina, especialmente no âmbito da educação e do mercado de trabalho. Na última década, porém, o rápido avanço da ciência e da tecnologia, bem como a ampliação da automação nos postos de trabalho, fez com que organizações de representação global, como a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) e o Fórum Econômico Mundial, dentre outras, passassem a alertar escolas e corporações a ampliar seu escopo e atentar mais para essas habilidades antes menos valorizadas.

Essa mudança de enfoque tem diferentes origens, mas grande parte está relacionada com a conclusão de inúmeros pesquisadores mostrando em seus estudos que o conceito de bem-estar humano envolve mais do que apenas o acesso a recursos materiais, como riqueza, empregos, rendimentos e moradia.

Um exemplo é o estudo da OCDE “O futuro da educação e das habilidades para 2030”, mostrando que o bem-estar individual e coletivo também está relacionado à qualidade de vida, incluindo saúde, conexões sociais, educação, segurança, satisfação com a vida pessoal e com o meio ambiente.

De acordo com a publicação, a educação escolar tem um papel vital no desenvolvimento de conhecimentos, habilidades, atitudes e valores que permitem às pessoas contribuir e se beneficiar de um futuro inclusivo e sustentável. Por isso, aprender a formar metas claras e objetivas, trabalhar com pessoas que tenham perspectivas diferentes, encontrar oportunidades inexploradas e identificar múltiplas soluções para grandes problemas já é essencial atualmente e será ainda mais necessário nos próximos anos.

Para ilustrar um pouco sobre como o socioemocional impacta para além da vida escolar, selecionamos uma palestra do ex-treinador de vôlei, economista e empresário Bernardinho sobre sua jornada de superação e sobre como as habilidades socioemocionais contribuíram para que ele pudesse lidar com as frustrações:

5. Investir na saúde mental das comunidades escolares

Outro benefício de um projeto voltado para a educação socioemocional é a possibilidade de as escolas oferecerem um olhar mais atencioso para a saúde mental de seus alunos e colaboradores.

Um programa com essa abordagem possibilita a criação de espaços de escuta, momentos de acolhimento e atividades constantes para promover mais empatia, diálogo e colaboração aos membros de uma comunidade escolar.

As escolas parceiras do programa LIV, por exemplo, têm encontrado nos materiais de referência e nas formações, junto ao time pedagógico, a possibilidade de aprofundar-se nessa questão, seja no ambiente presencial ou on-line. Além de beneficiar os estudantes, essas ações também favorecem a saúde mental dos adultos, com abordagens específicas para educadores e para as famílias.

A seguir, você pode assistir ao relato de Eveline Ribeiro, psicóloga e professora do CEI Romualdo, em Natal, no Rio Grande do Norte, que fala um pouco sobre o impacto da educação socioemocional na saúde mental:

Escrito por: inteligenciadevida.com.br

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Inteligência Socioemocional na Educação

Tenho conversado com muitas pessoas a respeito dos sonhos e dos desejos reais que possuem em suas vidas. Para mim, ter a consciência mais clara do que eu gostaria de executar como um legado de vida levou um certo tempo e algumas experiências de inteligência socioemocional. Apesar de entender que esse processo é algo inacabado durante toda a vida, a clareza maior vem proporcional ao esforço que nos permitimos fazer para encontrá-la. 

A vontade de contribuir com algo para que a nossa realidade pudesse ser melhor, sempre existiu dentro de mim desde muito cedo. Porém, era algo inominado, algo abstrato que me causou alguma ansiedade, uma busca incessante e mergulhos internos, alguns deles não tão agradáveis. Mas, que me levaram até o dia de hoje com as ações que acredito que farão muito sentido para aqueles que também buscam se aperfeiçoar e podem entender o mundo como um lugar para aprimoramento pessoal

Esse chamado interno certamente existe ou existiu com mais vigor em cada um de nós. Muitas vezes ele pode estar um pouco adormecido ou então esquecido – em minhas observações raramente encontrei um educador que não sonhasse, mesmo que somente no início de sua profissão, em verdadeiramente contribuir, fazer diferença na vida daquelas crianças, das “suas” crianças. 

Ainda não conheci um educador que não se emocione e fique com seu coração aquecido quando vê que seu ensinamento está sendo compreendido, assimilado e desenvolvido com entusiasmo por um aluno ou um grupo de alunos. Acredito que a primeira intenção do educador é sempre imbuída de muita verdade. Um pouco de inocência demasiada é verdade, e com o tempo, infelizmente, ela tende a ser frustrada ao ponto de muitas vezes até ser perdida quase que por completo. 

A vontade, a força, o chamado que vem de dentro traduzem-se em quem realmente somos e no que verdadeiramente queremos. Essa potência é tão grande que pode sim transformar realidades, porém a primeira a ser observada é a nossa. Um educador pode ser incrivelmente eficaz em ensinar seus aprendizes questões de inteligência socioemocional se ele passa a ser o exemplo do que está ensinando. Talvez esse seja o real significado da palavra Mestre, alguém em quem podemos nos espelhar.

A pós-graduação em Inteligência Socioemocional na Educação surgiu por causa disso. Eu sei da força que o autodesenvolvimento causa. Sou uma buscadora incessante de mim mesma. Uma vez que conseguimos desamarrar alguns emaranhamentos internos e nos permitimos ir além daquilo que imaginamos que poderia ser possível, ousamos voar para novas direções até então muitas vezes inexploradas. 

Diante do meu olhar, posso ver que se conseguirmos acordar nossos sonhos, toparmos com coragem a jornada do autodesenvolvimento e aderirmos com respeito às melhores práticas pedagógicas, com a inteligência socioemocional podemos sim formar uma rede de pessoas da qual surgirão as novidades necessárias para a educação. Juntos somos mais fortes, e essa é a melhor e mais rápida maneira de conseguirmos resultados eficazes. 

 

Para tanto, reunimos nessa pós-graduação de inteligência socioemocional pessoas que não serão somente docentes, mas também dedicados a sua própria jornada de aprendizagem interna, aplicando aquilo que estão se propondo a compartilhar. Não são apenas palavras.

Esse é um convite para você educador que também deseja um mundo melhor, afinal, o que realmente levamos ou deixamos dessa vida se não aquilo que cultivamos? Somos seres emocionais que deixamos emoções e ações nas emoções também de outras pessoas e existe aí um paradoxo que podemos desvendar juntos na Pós-graduação Inteligência Socioemocional na Educação

 

Escrito por:
Belisa Maggi – co-fundadora e presidente do Instituto Signativo.

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Qual o lugar das emoções em nossas vidas?

Em um único dia, todos vivemos diversas e diferentes emoções: seja a ansiedade causada por uma exposição oral de um trabalho na escola, no ambiente corporativo, ou a demissão de uma funcionária da casa; a frustração diante de um projeto grande ou pequeno fracassado; a tristeza pela partida de um amigo ou pelo fim das férias; a repulsa pelo cheiro forte de suor de alguém sentado ao seu lado ou pela atitude preconceituosa do colega; a decepção porque seu melhor amigo se esqueceu de seu aniversário; a raiva porque um espertinho quis furar a fila no banco… e assim por diante. Isso tudo é tão natural e automático que às vezes nem sequer tomamos consciência quando estamos vivendo essas emoções. Porém, algumas delas necessitam de regulação para que as ações tomadas em resposta a essas sensações dentro de nós, não sejam prejudiciais para nós mesmos e para as pessoas ao nosso redor.

Por séculos, vivenciamos emoções e muitos – sejam filósofos, cientistas, religiosos, líderes corporativos, professores e as pessoas em geral – desprezaram ou desvalorizaram o papel que essas sensações agradáveis ou desagradáveis desempenharam em nossas vidas. Porém, o avanço de doenças, transtornos e problemas sociais gerados pelo descontrole e incompreensão sobre as reações emocionais, têm cada dia mais trazido o assunto para dentro das instituições de saúde e educação, corporativas, religiosas e também da instituição família, o primeiro lugar em que as consequências são percebidas e vivenciadas, causando desconforto e muitas dúvidas de como proceder, onde buscar orientação e ajuda.

As emoções são muito poderosas e sentimos esse poder quando elas nos impulsionam a fazer aquilo que não queremos fazer. Quantas vezes pessoas querem ter controle sobre impulsos, como comprar, comer em excesso, jogar vídeo game, usar o celular, dormir demais, exercitar-se, e parece que algo invisível as levam a fazer exatamente o que não querem ou planejaram deixar de fazer.

Muitas consequências negativas prejudicam o bem-estar da pessoa. O sentimento de vergonha ou culpa, por exemplo, que se sente por não ter segurado alguma atitude descontrolada, ou até mesmo a consequência de perder um emprego que tanto gosta, e que é necessário para seu sustento, por ter deixado a raiva explodir diante de um chefe ou autoridade importante do trabalho.

Como seres humanos, a grande maioria de nós se identifica com esses relatos em menor ou maior grau de intensidade, porque o processamento emocional é um aparato do nosso cérebro, que nos acompanha por ter o propósito de nos defender, de nos ajudar na adaptação ambiental, na identificação das experiências do dia a dia como boas ou ruins, a fim de fugirmos de algo parecido ou irmos ao encontro daquilo que nos causou bem-estar.

A falta total de entendimento, conhecimento e educação sobre emoções tem causado muita autodesorganização mental, confusão nas tomadas de decisão, autojulgamentos conflituosos e influências negativas na saúde física, mental e relacional. Poderíamos descrever outras dezenas de consequências da disfuncionalidade das emoções na construção da nossa personalidade e dos relacionamentos – com nós mesmos, com os outros, com o ambiente familiar, de trabalho e social.

Por ser um fenômeno impalpável e intangível, ao mesmo tempo poderoso, parece ser algo totalmente distante de um gerenciamento e regulação. Sabemos, no entanto, através do conhecimento da psicologia e da neurociência, que algum entendimento simples pode ser muito eficiente na administração desse fenômeno tão presente no nosso dia a dia.

Não tema suas emoções! Elas dão cor à nossa existência, ajudam-nos em muitas decisões do dia a dia e, mais do que isso,  nos tornam seres verdadeiramente humanos.

 

Escrito por:
Regina Suguihara – Psicóloga e Profª Dra da disciplina de “Neuropsicologia Cognitiva aplicada à Educação” da Pós-graduação em Inteligência Socioemocional na Educação, oferecida pelo Instituto Signativo.

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Educação Socioemocional do “professor”?

Muito se fala sobre a necessidade de a escola promover a Educação Socioemocional dos alunos. Não pretendo aqui discordar dessa afirmação, visto eu ser, não apenas defensora, mas profissional engajada nessa causa. Entretanto, uma pergunta nunca se cala em minha mente inquieta: como a sociedade pode demandar que os professores promovam a educação socioemocional de seus alunos, quando eles mesmos não tiveram a oportunidade de serem formados para tal? Qual dos professores (e eu me incluo nesse grupo) foram educados “socioemocionalmente” ao longo dos muitos anos que frequentaram a escola?

Sendo a grande maioria dos professores objeto de uma formação voltada à aquisição dos conceitos teóricos incontestáveis e das práticas didático pedagógicas que reinam no momento, não lhes é facultada a oportunidade de refletir sobre questões básicas, mas muito profundas e necessárias como: quem sou eu? Qual é a minha verdadeira identidade? De onde vem e como posso lidar com todos os pensamentos e emoções que afloram dentro de mim a todo momento? Como posso manter o meu próprio equilíbrio emocional quando as demandas emocionais dos meus alunos são tão grandes? Como posso desenvolver minhas competências de função executiva ao mesmo tempo que auxilio meu aluno? Como posso ajudar meu aluno a ser mais focado, mais atento, quando eu mesmo me pego “divagando” em muitos momentos?

Eu gostaria de tranquilizá-los nesse momento, dizendo que existe, sim, uma forma rápida, eficaz e que demanda pouco tempo e esforço por parte dos professores e das instituições educacionais, que transforma o professor em um ser socioemocionalmente educado, ou seja, um ser sábio, equilibrado, focado, eficiente, socialmente hábil e que ainda leva seus alunos a excelentes resultados!!!

Caros leitores, lamento desapontá-los, mas esse “pózinho-de-pirlimpimpim” não existe! Não existe fórmula mágica! Coloquemos os pés no chão! É necessário muito trabalho, esforço e determinação das instituições educacionais para se percorrer esse caminho com sucesso.

A educação socioemocional dos alunos como contemplada nas competências gerais da BNCC/2017 e que já entrou em vigor esse 2020 não é possível de ser alcançada se as instituições educacionais não investirem na formação socioemocional contínua e sistemática de seus professores. Uma palestra aqui, outra acolá ou mesmo uma série de encontros sobre assuntos diversos desconectados, que visam ensinar os professores a ensinarem, sem se desenvolverem primeiro, não leva a resultado algum.

Os professores somente desenvolvem competências didático-pedagógicas nessa área por intermédio do desenvolvimento sistemático e evolutivo de suas próprias competências socioemocionais. Isso, sim, lhes permitirá trabalhar questões de alta complexidade emocional e de função executiva com seus alunos. É necessário um sistema de formação de professores que lhes propicie a construção de um alicerce para o trabalho pedagógico nessa área especificamente, assegurando-lhes primeiramente o desenvolvimento da consciência de si mesmos, da potencialidade de seu cérebro, de como suas emoções e seus pensamentos funcionam e se integram, de suas forças pessoais e de como se tornarem mais hábeis socialmente. Por meio de diferentes práticas, assegurar aos professores uma formação integral baseada no desenvolvimento de sua própria função executiva e de sua inteligência socioemocional.

Aos professores é necessário disponibilizar oportunidades que lhes conduzam a intensas mudanças provocadas pelo autoconhecimento e afirmação de sua identidade, em relação a si mesmos, aos colegas de trabalho, à família, aos amigos e aos alunos. É necessário ir além, questionando e construindo valores, atitudes e competências úteis para si mesmos, para o trabalho e para a sociedade. Por fim, precisamos contribuir para que os professores desenvolvam resiliência ao lidar com os mais variados sentimentos que a vivência diária em sala de aula lhes impõe. Sentimentos que precisam ser trabalhados para que possam ajudar seus alunos a superarem os desafios de grande complexidade que a realidade atual lhes apresenta.

Os professores precisam ser beneficiados com uma escuta ativa, mais disposta a entender e dialogar com suas formas próprias de expressão, sentindo-se acolhidos e respeitados. Somente assim, vão se dispor a fazer o mesmo por seus alunos. Além de desenvolverem competências essenciais como controle da atenção focada, organização e resgate de memória mais eficientes, também precisam aprender a lançar mão de intervenções cognitivas para regular suas emoções, diminuindo a ansiedade e promovendo sua saúde mental.

Concomitantemente, os professores também precisam ter acesso a um programa consistente de desenvolvimento socioemocional para seus alunos que também promova desenvolvimento de suas funções executivas e potencializem seu aprendizado. Leituras sobre assuntos randomizados, aulas conceituais, participação em jogos sem saberem para que os mesmos servem, ou mesmo tratar a inteligência socioemocional como tema transversal apenas resvala um aspecto do desenvolvimento humano tão complexo e necessário. Os professores precisam ter acesso a; 1) uma trilha de aprendizagem que contemple sequências didáticas que assegurem que a intencionalidade de cada aula seja alcançada; e 2) práticas escolares diferenciadas, organizadas em torno das vivências e dos interesses dos alunos e apropriadas para cada faixa etária.

Ao longo da Educação Básica os alunos passam por intensas mudanças decorrentes de transformações biológicas, psicológicas, sociais e emocionais, sempre em busca de conhecer e afirmar sua identidade em relação ao grupo a que pertence, seja esse grupo a escola, a família, ou os amigos. Ao longo da Educação Básica, os professores são confrontados por valores e atitudes diversas que os alunos trazem de sua convivência familiar e comunitária, assim como lidam com seus sentimentos de inferioridade e baixa autoestima diante dos desafios acadêmicos e pessoais e da elevada ou baixa expectativa das pessoas de seu convívio.

Apenas através de uma formação sólida e acompanhamento especializado continuado, os professores se fortalecem e instrumentalizam para conduzir os alunos ao reconhecimento de suas potencialidades, acolhimento de suas memórias e experiências, desenvolvendo sua capacidade crescente de realizar operações cognitivas, cada vez mais complexas, e sua sensibilidade para apreender o mundo, expressar-se sobre ele e nele atuar, o que determina a maneira de como os alunos se relacionam consigo mesmos, com os outros e com o mundo. A ampliação da autonomia intelectual, leva os professores e alunos a uma maior compreensão da dinâmica da sociedade, maior interesse por interagir com sistemas mais amplos, e a ter maior discernimento diante das escolhas para suas vidas. Integrando a formação socioemocional de professores e alunos, esses se tornam protagonistas e autores de suas próprias histórias, reconhecendo suas forças e enfrentando os desafios que desenvolver-se socioemocionalmente apresenta.

 

Escrito por:
Brain Academy – instituição parceira no curso de Pós-graduação em Inteligência Socioemocional na Educação.